domingo, 9 de dezembro de 2012

O Buraco Do Espelho


o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí
pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some
a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve
já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

Arnaldo Antunes.

domingo, 25 de novembro de 2012

Além da Morte


Além da morte, o que me espera?
Deus? Ou um demônio?
Talvez nenhum e só meu anjo.
O que está além da morte?
Será a paz? Ou continuarei com a dor?
Deus vai me curar?
Ou será meu anjo que me salvará?
Depois da morte, eu precisarei ainda respirar?
Eu ainda me lembrarei da vida aqui?
Talvez.
Talvez eu encontre um lugar em paz
E por lá poderei mesmo continuar.
E aquele anjo? Virá também?
Será que depois da morte, o céu é sempre azul?
Será que por lá há sol?
Talvez Deus caminhe visitando e curando
Aqueles que como eu, sofreram tanto.
Além da morte deve haver algo que possa me ajudar
Deve haver alguém que possa ressuscitar
Este meu coração, que tanto sangra.
E o anjo? Ele também virá?
Talvez. Será ele que me levará? Talvez.
Agora os seus olhos me encaram com doçura
A minha vez chegou
Vejo-o caminhar até mim.
E um beijo. É assim que se morre?
Em breve descobrirei o que há além da morte.


Caroline Pessoa.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ouvir Estrelas

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.



Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Destruição


Sem cessar, ao meu lado, o Demônio arde em vão;
Nada em torno de mim como um ar vaporoso;
Eu degluto-o e sinto-o, a queimar-me o pulmão,
Enchendo-o de um desejo eterno e criminoso.
Toma, ao saber o meu amor à fantasia,
A forma da mulher, que eu mais espere e ame,
E tendo sempre um ar de pura hipocrisia,
Acostuma-me a boca a haurir um filtro infame.
Longe do olhar de Deus ele conduz-me assim,
Quebrado de fadiga e numa ânsia sem fim,
Às planícies do tédio, infinitas, desertas,
E atira aos olhos meus, cheios de confusão,
Ascorosos rasgões e feridas abertas,
E os aparelhos a sangrar da Destruição!

Charles Baudelaire

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Livre

Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.


Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.

Livre! bem livre para andar mais puro,
mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.

Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.



Cruz e Sousa

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

REINVENÇÃO


A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.



Cecília Meireles, a poetisa.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

NADA DE NADA

Nada saia da minha mente.
Sem inspiração alguma eu falava nada com nada.
Claro, eu não ligava para nada.
O nada era tão obscuro que nada fazia sentido.
Ficava pensando em nada, em uma casa nada legal,
com uma vida nada boa, e esperanças nada correspondidas.
Bem, agora sei que nada faz sentido nessa vida,
apenas se deixe levar a nada nenhum.




Aneke Allen, o louco poeta.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012


Noite fria,
Na calada esconde o omisso.
No silêncio tácito,
Soa o estrondo remisso.

Ecoam gritos mudos
De vozes algozes funebres.
Da vala do submundo
O negligente traz a febre.

A pele queima,
Mas o estomago é que dói.
Sangra com fome,
Sede por um nome.

Os sonhos roubados,
De belos, massacrados.
Resta a sentença,
Viver sem crença,
Nessa terra de gigantes alados.




quinta-feira, 13 de setembro de 2012

VOCÊ

você é uma fera, ela disse
sua enorme barriga branca
e seus pés cabeludos.
você jamais corta as unhas
e tem mãos gordas
como as patas de um gato
seu nariz vermelho e brilhante
e os maiores bagos que
eu já vi.
você lança esperma como
uma baleia lança água pelo
buraco das costas.

fera, fera, fera,
ela me beijou,
o que você quer para o 
café da manhã?



Charles Bukowski

sábado, 18 de agosto de 2012

Inatingível



O que sou eu, gritei um dia para o infinito 
E o meu grito subiu, subiu sempre 
Até se diluir na distância. 
Um pássaro no alto planou vôo 
E mergulhou no espaço. 
Eu segui porque tinha que seguir 
Com as mãos na boca, em concha 
Gritando para o infinito a minha dúvida. 

Mas a noite espiava a minha dúvida 
E eu me deitei à beira do caminho 
Vendo o vulto dos outros que passavam 
Na esperança da aurora. 
Eu continuo à beira do caminho 
Vendo a luz do infinito 
Que responde ao peregrino a imensa dúvida. 

Eu estou moribundo à beira do caminho. 
O dia já passou milhões de vezes 
E se aproxima a noite do desfecho. 
Morrerei gritando a minha ânsia 
Clamando a crueldade do infinito 
E os pássaros cantarão quando o dia chegar 
E eu já hei de estar morto à beira do caminho.


Vinicius de Moraes


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Como Era Bom


o tempo em que marx explicava o mundo
tudo era luta de classes
como era simples
o tempo que freud explicava
que édipo tudo explicava
tudo era clarinho limpinho explicadinho
tudo era mais asséptico
do que era quando eu nasci
hoje rodado sambado pirado
descobri que é preciso
aprender a nascer todo dia



Chacal

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Eu tenho pena da Lua!
Tanta pena, coitadinha,
Quando tão branca, na rua
A vejo chorar sozinha!...

As rosas nas alamedas,
E os lilases cor da neve
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas

Só a triste, coitadinha...
Tão triste na minha rua
Lá anda a chorar sozinha ...

Eu chego então à janela:
E fico a olhar para a lua...
E fico a chorar com ela! ...



Florbela Espanca, poetisa portuguesa.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

UM SONHO NO SONHO

Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou ou suponho
não é mais do que um sonho.


Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou ou suponho
será apenas um sonho num sonho?


Edgar Allan Poe.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Pernicioso Segmento


Tamanha relutância,
Febril pensamento
Cultuado antes do ventre.
Acorrenta-se a discrepância,
Imorais doutrinas de contentamento,
Farsas, que tornam o ser doente.

O pecado cingi o homem.
Batalhas de desejos carnais e espirituais.

A vaidade excita,
O corpo cede,
A alma goza,
O espirito grita.





Alexander Moura.

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra





Carlos Drummond de Andrade 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Prece à boca da minha alma

Não te transformes em bicho,
ó forma incorpórea minha,
só porque animal capricho
perdeu o humano que eu tinha.

Guarda, do animal, o alheio
esquecimento. E somente.
Mas lembra aquele outro seio
que te nutriu a boca e a mente.

E recorda, sobretudo,
que não babas ou engatinhas,
a não ser quando te escuto
pelos becos, dentre as vinhas.

Vive como um homem morre:
em solidão e na esperança.
guardando a fé que socorre
em mim, semivelho, a criança.

Mas não te tornes em bicho,
nem percas o ser humano,
só porque a tara (ou o capricho)
deu-me este existir insano.





Nauro Machado, o gênio!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

NATUREZA


As cores são marcantes
Quando o céu está nublado,
E vi...
O que ninguém vê,
A beleza do invisível
Que faz parte...
Dessa natureza.


Yuri Hícaro, O poeta.

sábado, 14 de julho de 2012

FALÁCIA

É inevitável,
O homo sapiens se encolhe
Quando o mal
Toma o seu ser de medo.
Encurta-se
O caminho de toda espécie.
A união inexiste!


A doença maléfica,
Que tanta opressão proporcionou,
É o refugio.
Dispensa migalhas numa viela.
Desvia o foco
Da verdade perseguida
Tanto almejada!


O homem,
Regressa,
Algema-se
Aos grilhões da caverna.

Alexander Moura, o poeta!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

TIRANIAS
(Ruy Proença)

Antigamente
diziam: cuidado,
as paredes têm ouvidos

então
falávamos baixo
nos policiávamos

hoje
as coisas mudaram:
os ouvidos têm paredes

de nada
adianta
gritar


Ruy Proença, Poeta e Engenheiro de Minas.










terça-feira, 26 de junho de 2012


 O GRITO
(Antonio Cícero)


Estou acorrentado a este penhasco
logo eu que roubei o fogo dos céus.
Há muito tempo sei que este penhasco
não existe, como tampouco há um deus
a me punir, mas sigo acorrentado.
Aguardam-me amplos caminhos no mar
e urbes formigantes a engendrar
cruzamentos febris e inopinados.
Artur diz "claro" e recomenda um amigo
que parcela pacotes de excursões.
Abutres devoram-me as decisões
e uma ponta de fígado mas digo
E daí? Dia desses com um só grito
eu estraçalho todos os grilhões.



Antonio Cicero Correia Lima, nasceu no Rio de Janeiro no ano 
de 1945. É compositor, poeta, filósofo e escritor brasileiro.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

ROSA DE HIROSHIMA X ROSA DO RN

(Marcos Júnior)


Um dia Deus pensando,
inventou uma competição
Que buscaria saber:
Quem seria o super vilão.
Competiram: o Diabo, duas Rosas,
Papai Noel, Bicho Papão,
Cronos, Tony Ramos,
e uma Assombração,
a língua Portuguesa
e a Raiz da Equação.
Então Deus se perguntou:
Quem seria campeão?
Chegou a Primeira Fase,
mas era o natal
Papai Noel foi embora,
Tony Ramos se deu mal
O Diabo saiu,
pois já foi Anjo divinal
e a Raiz da Equação
Alguns achavam bem legal.
Caiu o bicho papão,
pois parecia um Animal
Assombrações e Cronos
não faziam muito mal,
A Rosa do RN passou,
com a Greve Estadual
A Língua também passou,
com Predicado Verbal
e a Rosa de Hiroshima,
com um Resto Mortal.


Chegou a Segunda Fase,
o meio da competição
A Rosa de Hiroshima,
foi com uma explosão
A Rosa do RN,
com a má educação
e por fim a Língua Portuguesa
foi com uma conjunção,
mas como alguns gostam
pegou terceira colocação.


Agora vem a duvida:
Quem será que vai ganhar?
Das rosas que chegaram
Quem será o primeiro lugar?


Chegou a Terceira Fase,
da grande Competição
A Rosa de Hiroshima,
usou a Radiação,
A Rosa do RN
foi com a Exploração,
e contra 180 mil mortes
usou a Enganação,
Má segurança publica
e a Perseguição,
depois pra finalizar,
acabar a Competição
recorreu ao Judiciário
e com uma Intimação
ganhou da Rosa de Hiroshima
Em 1ª colocação.


Agora vem a ironia:
da Rosa ser do Coração
símbolo do Amor
da Paz, Vida e Compaixão
de ser a Felicidade.
A verdade é que não,
esta rosa representa
Violência, Pobreza
Doenças e Má educação
essa é a Rosa
que semeia Enganação,
pra colocarem seu símbolo
onde bate o Coração.



sábado, 16 de junho de 2012


SUBJUGADA REVOLUÇÃO
(Alexander Moura)


Escarlate,
a cor dos lábios
da forte mulher bradante.
Vermelha,
a cor da bandeira,
erguida em honra a tua chegada.
O sangue,
gritante, cortante
que escorreu dos teus amantes.
Tão subjugada,
Revolução!





terça-feira, 12 de junho de 2012


O NOVO CÓDIGO FLORESTAL
Caroline Sá

“Os artigos vetados, segundo a presidenta, foram feitos para ampliar o crescimento socioeconômico e a não degradação do meio ambiente....”


       O Projeto que trata da grande alteração no código florestal brasileiro vem sendo discutida nos últimos meses, sendo deliberado e aprovado pelo Congresso Nacional 84 artigos para a criação do Novo Código Florestal. Na sexta-feira, dia 24 de maio, foram vetados 12 dos 84 artigos, e feito 32 alterações, pela presidenta Dilma Roussef. Ressalta-se que, o projeto apresentado pelo poder legislativo é de pauta máxima ruralista, ou seja, as normas estabelecidas favorecem aos ruralistas e seus agronegócios, uma vez que os isenta de multas e de obrigações como a recomposição de regiões desmatadas.
            Foram vetados os artigos que tratavam temas como anistia, uso de reservatórios artificiais, desmatamento autorizado em florestas da União e dos municípios, entre outros. Os artigos vetados, segundo a presidenta, foram feitos para ampliar o crescimento socioeconômico e a não degradação do meio ambiente, entretanto para os ambientalistas, o novo código não atendem as necessidades do meio ambiente, pois o código amplia a possibilidade de desmatamento e a falta de reposição dessas áreas, não atendendo a necessidade da recuperação das matas ciliares, favorecendo apenas parte da sociedade, e pouco ao meio ambiente.
            O novo código florestal brasileiro, provocou no país grandes debates ideológicos, pois para ambientalistas ele não reflete a preocupação que um país rico como o Brasil em diversidade ambiental, deveria ter pelo seu “verde”, uma vez que adotadas tais leis o único verde priorizado será o do dinheiro. Já para os ruralistas o Poder Executivo abusou do seu poder de veto, pois só prorrogou medidas que precisam ser adotas.
            A dúvida que fica com toda essa discussão em torno do Novo Código Florestal é como a população mal informada, coberta pela ignorância e refém de uma educação que beira o ridículo, pode e deve se manifestar diante dessa situação de divergência no país?! A quem esse código beneficiará verdadeiramente é a pergunta que não quer calar! O que vai ser daqui para frente, não se sabe. Aguardamos os próximos capítulos desse imbróglio político.
A nós, cabe apenas cuidar, preservar e torcer para que nossos legisladores tomem a melhor decisão, afinal é para isso que eles estão la...