Entre
decotes e blusas
Jogados
no camarim,
Tenho
agora duas musas
Que
dizem gostar de mim...
Uma
qual linda safira
Diz
que há muito me admira,
Desde
os meus tempos de atleta,
Já
a outra, culta e meiga
Se
derrete qual manteiga
Com
meus vultos de poeta...
Uma
lê versos de Augusto
Quando
vem falar comigo
E
a outra me mostra o busto
Como
forma de castigo.
Uma
me seduz à cama
Sem
beber da minha fama
Nem
por brilho no meu olho,
Mas
a outra é muito linda
E
eu não decidi ainda
Qual
das duas eu escolho.
Uma
tem beleza interna
Muito
embora seja pouca,
Porém
quando cruza a perna
Me
deixa de água na boca...
A
outra é politizada
Resolvida
e embelezada
Pelos
próprios ideais
E
neste clima bem tenso,
Gente
pensa que eu não penso,
Mas
eu não me importo mais...
Duas
mulheres singelas
Que
não me deixam sozinho,
Duas
pecadoras belas,
Pedaços
de mau caminho.
Duas
ventanias brabas
Sempre
a sacudir as abas
Deste
meu peito em açoite,
Duas
pétalas de lírio,
Duas
doses de martírio
Enchendo
a taça noite...
Uma
parece com uma
Dose
letal de veneno
E
a outra é como uma bruma
Numa
manhã de sereno...
Eu
que fui feito palhaço
Só
de perverso não faço
Com
que a coisa fique séria,
Sano
as vontades que sinto
Como
um animal faminto
Alimentando
a matéria.
As
duas pensam, coitadas,
Que
eu por elas tenho gosto,
Mas
estão muito enganadas,
Porque
a mim já foi imposto,
Que
nem mesmo Carla Perez,
A
mais bela das mulheres,
Merece
meu sentimento,
Pois
achar mulher sincera
É
como triste quimera,
Qual
folha seca no vento...
Eu
nem sei se as duas buscam
Uma
alma verdadeira
Ou
se sem saber ofuscam
O
meu sonho na terceira,
A
terceira é flecha certa,
É
como uma chaga aberta
Num
mendigo pelas ruas,
E
eu vou como um homem ruim
Enganando
mais a mim
Por
enganar todas duas...
Porém
como essa terceira
Não
sabe nem que eu existo
Eu
vou sofrendo à maneira
De
Deus na Paixão de Cristo,
Vou
procurar uma quarta
Mesmo
com minh’alma farta
De
um amor que me recusa,
Tentando
driblar a sorte
Antes
que a própria morte
Seja
a minha quinta musa.
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Manoel Cavalcante |